Entre linhas de código e 20kgs de livro
Você consegue estudar com 10 minutos de internet por semana? Eu vivi isso. Sem fórmulas mágicas. Só paciência, tentativa e erro. Uma reflexão sobre aprendizado.
Eu nunca fui muito bom naquela parte mais profunda da programação. Codar de verdade, pesado, nunca foi meu ponto forte quando comecei a mexer com tecnologia.
Mas isso não quer dizer que eu tenha evitado aprender. Não quer dizer que eu não tenha tentado.
E você? Quantas vezes já se pegou dizendo “isso não é meu forte” e deixou passar uma oportunidade de aprender?
A forma como tudo começou, no meu caso, foi até engraçada.
Meus pais compraram o nosso primeiro computador de família quando eu tinha cerca de 12 anos.
Fomos buscar na casa da antiga dona e depois carregamos até em casa, com todo o cuidado do mundo, como se fosse um tesouro.
Era uma máquina velha, bem usada, mesmo para os padrões da época. Sem internet, só aquela caixa branca barulhenta.
Mas tinha um charme. O frescor do Windows XP. Naquele tempo, ligar o computador era quase uma cerimônia.
Você lembra da primeira vez que ligou um computador e sentiu aquela sensação de “agora estou conectado com o mundo”?
Tinha uma ordem certa: colocar na tomada, ligar o estabilizador, apertar o botão, ouvir a máquina roncar, esperar tudo inicializar devagar… e então aquele som maravilhoso do Windows XP começando.
Eu poderia ficar horas só falando do Windows Media Player, organizando minhas músicas com o maior capricho, como se estivesse montando minha própria rádio.
Aquele computador foi um bom amigo por alguns anos. Até que comecei a trabalhar, aos 14, e consegui juntar dinheiro para comprar um novinho em folha. Acho que foi por volta dos 15 anos que finalmente consegui.
Mas isso não é o ponto. Essa história não é sobre comprar computadores. É sobre o que a gente faz com as ferramentas que tem.
Naquele PC branco, velhinho, eu comecei a explorar tecnologia de verdade.
Foi naquele computador branco, velhinho, que muitas portas se abriram para mim no mundo da tecnologia.
Naquela época, eu tinha cerca de 10 minutos de internet por semana. Sim, por semana. Eram os 10 minutos grátis que eu conseguia antes do meu curso de informática. E não, não era para mexer no Orkut.
Eu aproveitava cada segundo para baixar o máximo de conteúdo possível, pra estudar e experimentar em casa.
Tá bom, tá bom… às vezes também rolava um pacote com mapas para CS 1.6 ou algum joguinho arcade. Ninguém é de ferro.
De vez em quando, eu também dava sorte de usar o modem 3G de trabalho da minha irmã, só pra tirar uma dúvida que não me deixava em paz.
Minha aventura com programação começou pelo Delphi. Tinha uma interface amigável, fácil de gostar. Minha primeira criação foi um sistema bem simples para organizar tudo o que eu estava baixando. Uma biblioteca digital improvisada, só pra catalogar as coisas, sem conseguir anexar arquivos, apenas organizar os tópicos.
Gostaria muito de reencontrar aquele sistema feio e desajeitado. Mas deve estar perdido em algum HD antigo, esquecido no tempo.
Naquele mesmo ano, meu pai fez uma viagem para o interior do estado. Lá, descobriu por acaso que alguns livros de programação, fotocopiados de um primo, estavam prestes a ser doados. Ele nem pensou duas vezes e trouxe tudo pra mim.
Voltou pra casa com uma sacola enorme.
Eram uns 20 quilos de livros!
Cansou, mas trouxe.
A maioria era sobre programação em C, alguns de C++, outros poucos de Delphi, e um livrinho sobre .NET C#. Esse último me chamou atenção.
Acabei assinando um curso por Email (caramba, que lembrança) sobre .NET. Gostei tanto que resolvi reconstruir meu sistema de biblioteca digital usando C# com .NET MVC.
Foi uma experiência incrível. Eu aprendia muito com aqueles livros.
Toda semana eu anotava minhas dúvidas e só conseguia buscar as respostas quando tinha acesso à internet de novo.
Não era fácil como é hoje. Mas, pensando bem, foi ótimo ter aprendido daquele jeito. Valeu muito a pena.
Essas primeiras experiências acabaram sendo a base para minha carreira inicial, trabalhando com suporte técnico e implementação de sistemas.
Agora, você pode se perguntar: por que eu não continuei nesse caminho da programação? Por que acabei indo para o Gerenciamento de Projetos e liderança de equipes?
Essa, também já é uma história pra outro post.
Mas o ponto aqui é simples: eu amo aprender. Especialmente quando a jornada depende só de mim.
E você? Quando foi a última vez que aprendeu algo por conta própria, sem depender de cursos, vídeos ou passo a passo?
Talvez valha a pena tentar. Nem que seja só 10 minutinhos por semana.