Giuseppe Garibaldi: A história que o cinema deveria nos presentear
De Anita Garibaldi às guerras pela liberdade, a vida desse marinheiro italiano parece roteiro pronto de filme épico ou uma séria digna de maratonar.
No ano passado, eu li dois livros sobre a Monalisa: “Eu, Mona Lisa” da Natasha Solomons e “Salvando a Mona Lisa” do Gerri Chanel.
A leitura desses dois livros, me levaram a ler a biografia do Leonardo da Vinci escrita pelo Walter Isaacson.
Com isso, obviamente acabei lendo sobre Os Borgias (“The Borgias” do Paul Strathern) e sobre Os Médicis (“The Medici” do Paul Strathern).
Foi então que fui ler sobre a Itália, e acabei lendo dois livros: “The Pursuit of Italy” do David Gilmour e “A Concise History of Italy” do Christopher Duggan.
E, como gaúcho, não tinha como não ficar curioso para saber sobre a participação épica do Garibaldi nisso tudo.
Então acabei lendo “Garibaldi: Herói de Dois Mundos” do Maurício Oliveira e “Garibaldi na América do Sul” da Gianni Carta.
Também li o diário escrito pelo próprio Garibaldi, contando sua ótica das aventuras.
Sabe aquela expressão “o cara viveu mil vidas numa só”?
Então, acho que inventaram pensando no Giuseppe Garibaldi.
Um italiano que não conseguia ver uma briga por liberdade sem se jogar no meio.
O homem foi herói no Uruguai, virou quase santo no Rio Grande do Sul e ajudou a unir a Itália. Ele chamou atenção de reis, de Abraham Lincoln e de escritores épicos como Alexandre Dumas e Victor Hugo.
E ainda arrumou tempo pra viver uma história de amor que daria uma série das mais incríveis por si só.
Garibaldi nasceu em 1807, em Nice, quando ainda era território francês.
Era pra ser marinheiro e seguir a vida normal, mas ele tinha uma coisa dentro dele que não deixava: uma inquietação absurda.
Era como se liberdade fosse oxigênio pra ele.
Quando jovem, ele entrou de cabeça em movimentos revolucionários que queriam tirar reis e ditadores do poder.
Só que a Itália naquela época era um baita quebra-cabeça.
Vários reinos, cada um com seu rei mandão.
Então, lutar por "libertar a Itália" era praticamente pedir pra ser perseguido.
E adivinha? Foi o que aconteceu.
Ele precisou fugir da Europa.
Onde ele foi parar? Claro, na América do Sul.
Chegando na América do Sul, Garibaldi encontrou um cenário que combinava com o sangue fervendo dele.
No Rio Grande do Sul, em plena Revolução Farroupilha, ele não pensou duas vezes: se juntou aos revolucionários.
O movimento ganhou o famoso nome porque os revoltosos eram tratados como míseros “esfarrapados” pelos mais ricos, detentores do poder.
A história no Brasil foi simplesmente impressionante. E não estou brincando: alguma desses grandes empresas de streaming PRECISA fazer uma série sobre a quantidade épica de coisas vividas por Garibaldi!
E foi no Brasil aí que ele conheceu uma figura também muito impressionante: Anita Garibaldi.
Giuseppe Garibaldi descreveu seu primeiro encontro com Anita em suas memórias.
Ele estava a bordo de um navio na costa de Laguna, Santa Catarina, quando, usando uma luneta, avistou uma jovem que chamou sua atenção.
Decidiu então desembarcar para procurá-la.
Após uma busca sem sucesso, foi convidado por um morador local para tomar um café em sua casa.
Ao entrar, deparou-se com a mesma jovem que havia visto da embarcação.
Garibaldi relata que, ao vê-la novamente, disse em italiano: "Devi essere mia" ("Você deve ser minha").
Ele disse isso na frente do tal morador… Que era o marido dela.
Essa passagem é frequentemente citada em biografias e relatos sobre o casal, destacando o impacto imediato que Anita teve em Garibaldi e o início de uma união que se tornaria lendária.
Anita era uma mulher fora da curva. Forte, corajosa, montava cavalo melhor, atirava, lutava.
Quando os dois se encontraram, foi tipo faísca na palha seca. Não era só romance, era parceria de guerra mesmo.
Anita seguiu Garibaldi nas batalhas, nos acampamentos, nas fugas.
Virou símbolo junto com ele.
Durante momentos de conflitos em Laguna, Garibaldi tentava persuadir Anita a buscar refúgio em terra, alertando-a sobre a gravidade do combate que se aproximava–do qual muitos de seus homens, ou mesmo ele próprio, provavelmente não sairiam vivos.
Anita respondeu que não queria receber qualquer tipo de cuidado especial, pois agiria do começo ao fim como qualquer outro dos seus comandados. Estava às ordens do capitão.
Ela assumiu uma tarefa importante e arriscada: comandar o barco a remo que atravessava o canal da Barra para transportar munição e trazendo de volta os feridos.
O barco percorreu o trajeto mais de 20 vezes, sempre em meio ao fogo cruzado, e Anita milagrosamente não foi atingida.
O primogênito de Garibaldi e Anita nasceu com uma cicatriz na testa, resultado, possivelmente, de uma das várias quedas de cavalo que a mãe sofrera ao longo da gestação.
Dez dias depois do parto, com Anita já totalmente recuperada, Garibaldi partiu para Vila Setembrina, a quase 100 km dali, em busca de agasalhos e mantimentos para a família.
E a história no Brasil não para por aí: Garibaldi não ficou só na Farroupilha, depois ainda foi lutar no Uruguai.
Lá, ajudou a proteger Montevidéu contra forças inimigas.
Imagina um italiano meio maluco liderando tropas de uruguaios e brasileiros em campo de batalha?
Pois é. E ganhando!
Depois de anos na América, veio o chamado: a Itália precisava dele.
As ações da Legião Italiana na América do Sul estavam sendo amplamente disseminadas pela Itália e por toda a Europa, reforçando a aura de heroísmo em torno de Garibaldi.
Era hora de voltar pra casa.
No dia 15 de abril de 1848, o líder revolucionário partiu acompanhado por 62 companheiros, quase todos italianos que estavam exilados no Brasil e se mostravam dispostos a lutar até a morte pela pátria que em algum momento foram obrigados a abandonar.
Garibaldi voltou como quem volta pra casa pra resolver pendência: decidido a unir a Itália de qualquer jeito.
A cor vermelha do uniforme da Legião Italiana, que se tornaria célebre, foi adotada por acaso.
As peças foram tomadas de um navio argentino que transportava os uniformes destinados a um matadouro. O vermelho é tradicionalmente usado nesses estabelecimentos para disfarçar as manchas de sangue dos animais.
Dali em diante, os legionários se tornariam conhecidos como os “camisas vermelhas”, e a cor seria adotada em definitivo por Garibaldi como um de seus símbolos.
Já a bandeira da Legião Italiana era preta, com o desenho do Vesúvio em erupção, referência ao mesmo tempo a um símbolo geográfico da Itália e ao sentimento latente de revolta encontrado entre a população.
Enquanto reis, príncipes e diplomatas ficavam naquele lenga-lenga de tratados, Garibaldi ia lá e resolvia na prática: batalha, vitória, bandeira tremulando.
E é bom citar que Garibaldi se tornara um gaúcho durante os treze anos passados na América do Sul. Como um caubói sul-americano, ele era um herói que defendia a gente do povo.
Desse ponto em diante, Garibaldi passou a ser desenhado ou fotografado quase exclusivamente com a indumentária gaúcha.
Mas foi também na Itália que Anita acabou morrendo!
… Anita chegou a ser atendida por um médico, chamado às pressas. Mas a febre não cedia e ela já delirava, sem noção do que ocorria ao redor. Seus lábios estavam o tempo todo cobertos de espuma, que Garibaldi limpava constantemente com seu lenço. Bonnet insistia para que Garibaldi partisse, mas ele não teve coragem diante dos olhares suplicantes de Anita e das palavras que conseguiu emitir com grande dificuldade: “Não me deixe”. Perto das oito da noite de 4 de agosto de 1849, Anita morreu nos braços do amado. Tinha apenas 28 anos e estava grávida de seis meses. Ajoelhado ao lado da cama, Garibaldi chorou desesperadamente quando percebeu que o coração da amada deixara de bater…
Dos Estados Unidos, chegou um convite do presidente Abraham Lincoln para que Garibaldi assumisse um batalhão do Norte, no início da Guerra de Secessão contra o Sul.
Era mais uma prova de que ele havia se tornado um mito universal.
Dá pra imaginar? Garibaldi no meio da luta pela abolição da escravidão nos EUA?
Parece que Lincoln até sondou o velho revolucionário, mas Garibaldi teria colocado uma condição: ele só toparia se a guerra fosse 100% pra acabar com a escravidão.
Como naquela época ainda tinha muito jogo político, o papo não foi pra frente.
Já velhinho e viúvo, Garibaldi acabou engravidando a governanta dele, Francesca Armosino.
Não dá pra negar que ele viveu intensamente até o último suspiro.
Giuseppe Garibaldi virou herói em tudo que é canto.
No Brasil, tem estátua dele.
No Uruguai, ele é lembrado como defensor de Montevidéu.
Na Itália, é simplesmente um dos pais da pátria.
Mas, sinceramente?
Garibaldi foi muito mais que um general. Ele era aquele tipo de pessoa que carregava um ideal tão forte dentro dele que contaminava quem estava por perto. Era coragem ambulante.
E você sabe, né? Ninguém constrói uma história assim sem fazer uns inimigos, sem se machucar, sem perder coisas pelo caminho.
Garibaldi perdeu muita coisa. Perdeu a Anita ainda jovem, perdeu batalhas, perdeu pedaços da própria vida em prol de uma causa.
Mas ganhou também: ganhou o respeito da história.
Ganhou o título que poucos têm de verdade: o de lenda.
E, no fundo, é isso que inspira tanto: Garibaldi mostra que a gente pode até ser pequeno no mapa, mas dá pra ser gigante na história.
O guerreiro morreu no início da noite de 2 de junho de 1882, pouco mais de um mês antes de completar 75 anos.