Se já disseram tudo, por que ainda vale escrever?
E se ninguém ler o que você escreveu? Por que tanta gente inteligente fica em silêncio online? Bom... Ninguém vai contar sua versão da história por você.
Várias vezes me peguei pensando: talvez hoje eu devesse ficar quieto. Já tem texto demais por aí. Gente boa, com ideias melhores, palavras mais bonitas, opiniões mais fortes.
O que eu poderia dizer que ainda não foi dito? Por que alguém iria ler um texto sobre Garibaldi vindo de uma pessoa que escreve sobre carreira, gestão e negócios?
O paradoxo é que… Provavelmente nada. E provavelmente tudo.
No começo parece uma dúvida razoável. Mas quando olho com mais calma, percebo o que realmente está acontecendo. Não era lógica. Era medo.
Estou apenas evitando o desconforto de me expor. E esse medo não me protege. Ele só me congela, enquanto outras pessoas aprendem fazendo e eu fico esperando um momento que nunca chega.
A verdade é que a gente não tem medo de escrever. A gente tem medo de ser julgado. Medo de falar o óbvio. Medo de parecer que está tentando demais. A decisão de ficar quieto parece racional, mas é uma armadilha da cabeça.
Tem um nome pra isso… Spotlight effect.
Gilovich estudou isso há décadas. A gente acha que está sendo observado o tempo todo. Que qualquer vírgula fora do lugar vai ser notada, criticada, comentada.
Mas as pessoas não estão olhando. Elas nem veem metade do que a gente teme.
A maioria está preocupada com a própria vida, passando pelos seus próprios medos do que os outros vão pensar delas. É um círculo…
Ainda assim, o medo gruda. Não porque o holofote é real, mas porque a gente acredita que é.
E tem outro medo: o de perder.
A tal da aversão à perda, explicada por Daniel Kahneman. A gente sente mais forte o que dá errado do que o que dá certo. Então pensamos: se eu postar e for mal, vai doer. Se for bem, talvez não mude nada. É esse tipo de pensamento que mata ideias antes mesmo de nascerem.
Já vivi isso. Muitas vezes. Fico escrevendo rascunhos que ninguém viu.
Parece seguro. Mas depois, o que dói mesmo é o silêncio. Dói mais do que qualquer post fraco teria doído. Às vezes até posto. E dá em nada. Nenhuma curtida, nenhum comentário. A vontade é apagar tudo.
Mas aí lembro do que aprendi com pensamento sistêmico. Em sistemas complexos, o retorno não é imediato. Tem delay. Tem ruído. O silêncio do outro lado não significa que foi inútil. Significa que o sistema está processando. E nesse intervalo, é preciso continuar.
Demorei anos pra entender que escrever não é só um ato público. É uma forma de pensar. Quando escrevo com clareza, penso com mais clareza.
Antes, achava que precisava estar confiante pra compartilhar. Mas a confiança vem da prática, não da espera.
Foi o que aprendi com Anders Ericsson sobre prática deliberada. Não é ficando calado que a gente evolui. É tentando, errando, ajustando. E tentando de novo.
Esperar a ideia perfeita é só um jeito elegante de se esconder. No trabalho, o medo piora. Todo mundo quer parecer inteligente.
Aí a gente começa a se policiar. Entra em modo de performance. Queremos mostrar sempre o nosso melhor. Mesmo quando ninguém está exigindo isso.
Crescimento é confuso no começo, só depois faz sentido. O silêncio até protege sua imagem por um tempo. Mas atrasa o teu progresso. E isso cobra um preço mais alto.
Hoje não acho mais que o objetivo é ser apenas original, porque entendi que a minha voz em si já é original. Mesmo que eu fale sobre um assunto que todo mundo já falou, ainda é a minha voz.
A Cynthia Montgomery fala sobre isso quando escreve sobre estratégia. O que importa não é necessariamente ser o primeiro. É fazer o que importa, do jeito certo, no momento certo.
Já li várias ideias repetidas que me pareceram novas, só porque quem escreveu disse com verdade. Isso é o que muda tudo. Não é inventar. É dizer algo tão claramente que outra pessoa finalmente entende. Isso não é ruído. É contribuição. E ela só aparece quando você para de tentar ser único e começa a tentar ser útil.
O mais difícil ainda é começar. E não é porque falta conhecimento. É porque a gente quer pular a parte estranha. Quer sair da dúvida direto pra clareza. Mas em qualquer processo de mudança, primeiro vem a ação. Depois, o aprendizado. Não o contrário.
A clareza vem no caminho, não na largada.
Hoje eu me lembro de que criar não é impressionar ninguém. É dar espaço pra pensar. É entrar na conversa com honestidade. Você não precisa ser especial. Só precisa estar presente.
Minha nova regra é simples: escrevo mesmo sem certeza.
Publico mesmo parecendo pequeno.
Se alguém ler, ótimo. Se ninguém ler, ainda assim me ajudou a pensar. E isso já vale. Porque o silêncio parece seguro, mas não deixa rastro.
Criar, mesmo que seja só um parágrafo, sempre move alguma coisa. Mesmo que seja só dentro de você.